Sou Edgar Tchipoia, tenho 37 anos sou filho de Alberto Tchipoia e Domingas Feliciano. Esse é o nosso convidado de hoje para uma conversa descontraída. Estou me referindo ao personagem humorista que todos conhecem como Kotingo. Pessoa extraordinária de uma história incrível de lutas e superação na busca e conquista de seus objetivos.
RWIP: O que o motivou a lutar por uma vida melhor?
Ver meus irmãos que viviam com minha mãe a passar dificuldades foi duro e eu só quis crescer para ajudar a minha mãe, e essa vontade de vencer tenho desde muito cedo. O crescimento não é assim tão rápido, mas tudo que eu queria ajudar minha mãe.
RWIP: Você se inspirou em alguém para ser o que é hoje?
A vida de meu pai me incentivou a lutar pelas minhas coisas. Então eu tive esse espírito de batalhador por causa da influência daquilo que eu via do corre-corre de meu pai. Com ele ganhei esse espírito de lutador, sonhador, com posicionamento honestidade. Foi com meu pai que eu ganhei a paixão pela inteligência, conhecimento e sabedoria.
RWIP: Seu pai foi sua fonte de inspiração, agora nos fale um pouco de sua mãe…
Com a minha mãe Domingas Feliciano eu aprendi a humildade e muitas frases filosóficas tradicionais africanas e, se calhar, a minha “velha” (mãe) como não estudou muito nem sabia que isso que me passava era filosofia africana. Mas foram muitos bons ensinamentos. Há uma frase que aprendi com ela, são varias, mas uma está no meu subconsciente como uma tatuagem que diz “quando entregarem a corda para amarrar o filho do outro não te esqueças que também tens filhos, amarra de vagar” , os bons entendedores vão logo chegar ao ponto.
RWIP: Qual foi o impacto ao presenciar a separação dos pais?
Eles se separaram quando eu tinha apenas 5 de idade e nesta separação cada um constituiu a sua família e foi daí que eu ganhei 13 irmãos, somos 14 e sou o irmão mais velho. Tinha uma madrasta no sentido literal, maltratou-me muito e fez nascer em mim a vontade de voltar a ver os meus pais juntos. E ter uma vida normal como eu via nos meus amigos de infância.
RWIP: Hoje adulto, alguma lição tirou disto…
Quando miúdo a passar por esses momentos desagradáveis eu fiz uma promessa a mim mesmo de que não faria que iria fazer diferente do meu pai. Que não ia fazer cada filho com sua mãe, mas só que quando eu fiz essa promessa eu era miúdo e só na vida adulta é que eu consegui perceber que a vida a dois não depende só de uma pessoa e aí compreendi melhor aquilo que meu pai viveu. Infelizmente não depende de uma só pessoa.
RWIP: Quais experiências profissionais teve antes de ser humorista?
A vontade de vencer, lutar para vencer e ter uma vida melhor do que ontem me levou a várias áreas do trabalho. Fui pedreiro ajudante, nunca cheguei a ser mestre, ajudante de mecânica com 17 anos, fui caixa, recepcionista e financeiro numa empresa do Huambo.
RWIP: Como surgiu o lado humorístico?
Eu queria dar outro sentido à minha vida, seguir outro caminho e finalmente tive que aceitar meu lado humorístico e tentar fazer alguma coisa. Quando comecei nem sequer era para ser o Kotingo que sou hoje. Também digo que se meu pai não conhecesse a minha outra mãe, se calhar hoje eu não seria o Kotingo. Poderia até ser humorista, mas não seria o Kotingo que sou hoje. Foi através dessa relação de meu pai que vieram ou meus irmãos e conheci o senhor Kotingo e comecei a imitar a dicção, apenas a dicção, que era muito comum. Hoje não se vê em Benguela, mas antes era comum usar esse tipo de dicção para se comunicar. Então decidi ser humorista.
RWIP: Você passou dificuldades na vida? Como se sente depois de as enfrentar?
Passei muitos momentos de fome, miséria mesmo. Muitas necessidades básicas, muita humilhação aldrabices, mas tudo isso serviu como fragmento do homem, do artista, que sou hoje e não me arrependo, apesar de tudo. Por todo sofrimento, por todas as alegrias que eu passei na minha vida, porque se eu me arrepender por uma delas então não tenho o que agradecer pelo homem que sou hoje.
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RWIP: Você se sente um humorista completo?
Como humorista não sou sequer 15% do humorista que almejo ser.
RWIP: A pandemia limitou seu trabalho?
Entramos nessa situação pandêmica e eu procuro me adequar a essa nova situação por verdade que o mundo paulatinamente vai nos apresentando outras realidades e nós é que temos que seguir. Temos que nos adequar a cada realidade que o mundo nos vai apresentando, mas isso não é motivo para eu cruzar os meus braços, é motivo para aumentar as minhas habilidades para continuar a minha caminhada e fazer a minha historia.
RWIP: Qual conselho daria hoje àqueles que querem realizar um sonho?
Na busca do sonho têm que estar preparados para passar humilhação, vergonha e errar. Se eu tenho medo de errar não é possível ser um vencedor. Não será possível, seja no que fizer é errando que se aprende.
RWIP: Uma reflexão final?
Quando estamos a ler a história de um grande vencedor não podemos olhar apenas para o resultado final, temos que ler a história toda, acompanhar o processo para perceber como é que se chegou até aí. Assim dessa forma tu vais perceber que não és o único a passar dificuldades, não és o primeiro, não és o último e não és o único, e que isso faz parte”.
Por: José Antônio
Colaborador brasileiro da rádio internacional em português.
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