A edição do distinto Prémio Oceanos deste ano conta com um angolano na sua mesa de jurados, o Escritor e Ensaísta João Fernando André, também conhecido com o pseudónimo literário Kalunga. A Rádio Internacional em Português teve uma breve conversa com o mesmo e tentou saber mais sobre esse seu novo desafio.
RIEP: O Prémio Oceanos é um dos maiores prémios lusófonos. Pensamos nós, que seja o maior organizado no Brasil com abrangência internacional. Como foi contactado para integrar aos júris deste ano e o que esse convite significa para si e para a sua carreira?
JFA: Eu fui contactado pela Presidente da Associação Oceanos para fazer parte do jurado. O júri deste prémio é bastante complexo e está dividido em três fases, composto por escritores, académicos e professores da CPLP, e o mesmo tem uma abrangência internacional. Temos escritores ou autores de outras realidades que, falando o português, podem também concorrer.
RIEP: Sendo um prémio muito concorrido, pensamos nós que as candidaturas excedem mais de 500 livros em cada edição, tendo em conta a frequência de publicações que se tem verificado nos últimos anos dentro da CPLP. Faz ideia de quantos livros terá de avaliar?
JFA: Neste ano tivemos mais de duas mil obras inscritas. Até ao momento já se fez um bom trabalho, com uma avaliação de cerca de 50 obras.
RIEP: Agora é um júri OCEANOS, qual é a próxima etapa, tendo em conta aquilo que traçou como objectivos? Onde pretende estar daqui a 5 anos, por exemplo?
JFA: Para os próximos anos pretendo continuar a produzir, fazer o que for possível, com as condições que forem possíveis. Não gosto de falar muito sobre o futuro, diz a sabedoria, que o futuro é escuro e o tigre não mostra a sua tigritude, ele ataca!
RIEP: A literatura em língua portuguesa tem dado passos significativos, no entanto, temos apenas um prémio Nobel. O que acha que devemos fazer para mudar o dilema?
JFA: Penso que, para prémios com essa dimensão, o trabalho feito conta, o conjunto da obra conta, mas é preciso, também, mais destaque da parte do autor em outros campos das ciências sociais e das humanidades e, também, às vezes, algum lóbi dos próprios governos ou das próprias comunidades linguísticas, que têm alguma influência nisto.
RIEP: Qual é a análise que faz da literatura actual na língua portuguesa, de acordo com os indicadores, o que o futuro nos reserva?
JFA: Bom, nós temos muito boas obras, há um conjunto de escritores veteranos e jovens que vão trocando experiências e vão crescendo, mas continuamos com o problema da distribuição e da partilha na comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
RIEP: Em palavras simples, o que o escritor Kalunga nos traz nos seus livros?
JFA: As minhas obras trazem um casamento entre o local e o Global. Há algumas tentativas de inovações e rupturas, mas sobretudo o fundo que elas estão muito ligadas a um outro olhar das coisas, a um olhar com justiça das coisas, a questões de identidade, a crises de identidade e questões atinentes a contactos de vários povos para que se possa evitar os epistemicídios.
RIEP: Para os que estão em outros países, há algum lugar onde possam encontrar os seus livros?
JFA: Fora de Angola é possível encontrar na Amazon o livro Evangelho Bantu. É possível, ainda, descarregar algumas participações de antologias nacionais e internacionais, bem como o livro infanto-juvenil “O dia em que a pedra virou lua”, do projecto ler e contar, uma obra pro-bónus.
RIEP: Ainda sobre os prémios literários, que recomendação quer deixar aos escritores angolanos, futuros candidatos a este prémio e a todos os que existem pelo mundo?
JFA: Para os escritores angolanos deixo o apelo de que: precisamos trabalhar mais, dialogar mais, estarmos mais unidos e mais atentos ao que ocorre aqui e fora, nos outros lugares. Penso que ainda somos um número muito pequeno de angolanos que participam em prémios internacionais como o Oceanos. Penso que o objectivo da minha integração é justamente este também, divulgar e mobilizar mais angolanos para que participem à vontade nos prémios, porque não há nenhum impedimento para que possam fazê-lo.
A última pergunta colocada foi sobre as principais referências a nível literário, ao que o autor de Evangelho Bantu respondeu que tem como referência um vasto acervo de livros e autores, no entanto destacou alguns, tais como: Pedro Dias Cordeiro da Mata, Paixão Franco, Mário Pinto de Andrade, António Jacinto, Luís Kandjimbo, David Capelenguela, Lopito Feijó, Fernando pessoa, Camões, Becket, Guimarães Rosa, Stephen King, Alexis Kagame, Achille Mbembe, entre outros.
O Prémio Oceanos foi criado em 2003 pela empresa portuguesa de telecomunicações Portugal Telecom, com o objectivo de prestigiar e divulgar a literatura brasileira, seleccionando o melhor livro do ano. A partir de 2007 abriu as portas e expandiu-se a autores de todos os países de língua portuguesa. É um dos prémios mais importantes da literatura de língua portuguesa, a par do prémio Camões e comparável ao prémio britânico Man Book Prize.
João Fernando André “Kalunga” nasceu no Cunene, a 14 de junho de 1995. É um professor, escritor e jornalista cultural angolano. É membro da União dos Escritores Angolanos e autor das obras Evangelho Bantu, O Dia em que uma pedra virou Lua e Lumbu–a alquimia das palavras. Coautor nas antologias 5 sentidos e Entre palavras (Portugal).
A equipa da Rádio Internacional em Português agradece a disponibilidade do autor e deseja muitos sucessos na nova jornada, que essa integração possa produzir mais frutos para a comunidade de língua portuguesa, no que toca à arte literária e em particular para os angolanos.