Ondjaki, o nome pode não soar estranho para alguns brasileiros, o escritor viveu algum tempo no Brasil. “Vou Mudar a Cozinha” é o mais recente filme do escritor no mundo da sétima arte.

O escritor trata sobre a guerra civil angolana, é assim a descrição resumida do filme. Mas a imaginação, mediante os detalhes que o filme nos apresenta, pode levar-nos a uma mulher que perdeu as filhas e enfrenta a ausência do marido no lar.

Uma hipótese a que chegamos, influenciados pelos detalhes apresentados pela mulher, interpretada pela actriz Renata Torres: passa-se uma guerra em Angola, e o marido foi recrutado para as forças aéreas.

Trata-se, no entanto, de um monólogo, a mulher lembra das brincadeiras das filhas, ela tem alucinações, momentos de profunda reflexão, zanga e tristeza, e tudo em volta da Cozinha. Deduzimos que a razão pela qual as filhas morreram seja a “fome”, palavra referenciada por uma das filhas no filme.

Por outro lado, o marido é apresentado num “quadro sem integridade”, no sentido literal, uma vez que, num dos planos, é apresentado um quadro sem preenchimento, ou seja, vazio, e o marido aparece à frente do quadro – um homem à frente do quadro vazio para completar o quadro. Diz ela nalgum momento do filme: “As estrelas são um mistério, estão perto mas ninguém as vê.”

Somente há uma voz de cima (talvez a alma do pai ou um ente qualquer criado pelo autor) que se comunica com ela, o que não retira a característica de monólogo bem patente no filme. Um filme que participa na secção de “Curta e Média duração” da 51ª edição do Festival Internacional de Cinema de Roterdão, que vai decorrer de 26 de Janeiro a 6 de Fevereiro.

O filme é em preto e branco! É, um preto e branco com uma qualidade de imagem top! As fotografias ganham igualmente destaque, só assistindo ao filme para confirmar. O filme acontece no interior duma única casa, entretanto ficamos a pensar sobre o que seria das cores do objecto (e dos objectos em si) caso o filme fosse a cores, pois estamos entre 1975 e 2002 (anos de conflitos armados em Angola), as casas tinham o seu formato e preenchimento. Portanto, verdade é que, tal como disse alguém, o preto e branco “não cansou” e nem estragou nada, antes pelo contrário.

A última fala da mulher – que é “Vou Mudar a Cozinha” – demonstra que, passados já muitos anos (vê-se no aspecto físico dela), ela desistiu de ponderar e esperar pelo marido. Logo, a Cozinha é um espaço físico, o seu “eu” em meditação, ou está óbvio que simboliza o marido? O filme ainda não está nas salas de cinema, fomos privilegiamos ao assistir na turma de estudo, mas quando estiver disponível nas salas e/ou na internet poderão todos tirar as suas alucinações.

Até lá, boa secção de Roterdão!

Por David Nahenda

Voluntario da Rádio Internacional em Português direto de Angola.

Pela Rádio Que Fala A língua dos Povos.

Imagem ilustrativa texto da ONG Mosaiko

Imagem destacada: Capa do filme

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